segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Gavetas vazias


Esbarrei sem querer...

As gavetas empoeiradas estavam lá
Contando, impunes, histórias que ninguém queria mais ouvir.
Abertas, expunham o vazio doído das lembranças abandonadas.
Guardavam, orgulhosas, as marcas do uso, desgaste do tempo,
Despautério da empáfia...

Como se dissessem, cada uma: eu tive, guardei, protegi, ocultei...
E agora, o que passou por aqui, ainda continuará meu.
Porque estiveram em mim, se fizeram de minhas formas,
Se encolheram em meus espaços...
Serão minhas sempre, parte de mim...

Mas, apesar do tanto que ocupam,
Coisas idas já não cabem mais...
São eco apenas, ausências, um não saber.
E deveriam ficar onde moram as lembranças.
E aliviar os espaços tão antigos, corroídos...
Triste fardo esse, dos que cultivam pesados vazios

Desencontradas do que significaram...
Desocupadas do que pensavam ser...
Gavetas vazias são vazias só,
Se sopro dentro...
São indiferente silêncio
Insustentável pó...


Carla Balthazar

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