Meu chão guarda em suas tábuas corroídas meus passos que já não sabem ir
Minhas paredes de tijolos ocos ecoam a solidão dos vazios das ante-salas
Nada por ali passa, nada por ali é antes, nada por ali quer ser
Meu telhado de telhas cansadas do sol antigo
Não sabe mais recobrir e expõe em frestas doídas as entranhas do que não quero ver
Tudo ao redor lembra o que até o tempo já esqueceu
Tudo ao redor esquece o que um dia eu fui
Não há luz que ilumine
Não há janela que se abraEu entro, passo, saio e só...
Sou afeita às ruínas
Destruidas, ainda conseguem guardar em si a beleza do que um dia foiDo que um dia o tempo ainda não havia passado por lá
Destituidas da inteireza da novidade, sobrevivem de significados
São do todo, a parte que consegue identificar a beleza da ausência
Foram do tempo, testemunhas da vida que vai, vem e ninguém vê
São desfeitas, só para que sejam em algum lugar,
Quem já não sabia maisSão de mim, o que me basta e o que me falta
São para mim... lugar de achar as partes que me vou deixando pelo caminho...
Imperfeitas... gastas... cheias de marcas...
São minhas ruínas que me fazem recordar
Que o sentido do meu ser não cabe nas pequenas partes destruídas, amputadas
Cabe, sim, nas lembranças imutáveis do que um dia foram.
E no vazio que isso traz...
Paradoxo do caos.
Eu sou.
Desconstruída ruína
Que sabe de si que um dia foi inteira
E que agora não se reconhece mais.
C.B.
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