sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Entre Linhas...
O Natal do lado de fora...
Mas agora eu tenho trilhado caminhos de restauração. Assumi o papel que me cabe de protagonista da minha vida. Aprendi com um grande amigo que sofrimentos que não nos impulsionam para frente são inúteis e nada acrescentam em nossa caminhada.
Naquele momento senti vontade de pedir por aquele de quem sequer sabia o nome. A noite passou e não consegui desvencilhar-me daquela cena que se passava ali, tão perto.
Já estava me preparando para ir embora, buscando uma forma de levar algo para aquele que acompanhou minha noite. Foi quando o Guima surpreendeu-me em meu querer e falou: "Eu quero levar alguma coisa para um rapaz que está lá fora". Eu sabia quem era: "Eu sei. Eu também", respondi.
Preparei o prato, sobremesa e refrigerante. O que acontecia ali era maior que aquilo e eu sabia. Sabia que aquele gesto era pequeno demais, mas não me alcançava outro possível. Um prato de comida para uma fome suplicante pode ser tudo. Mas não resolve. É paliativo apesar de justo. Mas também sei que não adianta dizer ao que sofre que aguarde por planos grandiosos para a resolução de todos os seus problemas. O urgente é o que há de ser feito.
Fomos juntos, eu e Guima, até o local que já me aguardava desde cedo. A pouca luz do local não impediu minha surpresa. Sob o cabelo longo e a barba espessa, sob as roupas poídas e a coberta que mal cobria, sob a sujeira aparente e a dor que não podíamos ver, revelou-se uma fisionomia jovem, transfigurada pela solidão e sofrimento. Seu olhar, ainda meio adormecido, demonstrava não entender o que estava acontecendo. Por certo, não esperava ceia naquela noite.
O melhor Natal não estava na ceia, não estava nos presentes, nem na alegria das crianças. O melhor Natal, me aguardava onde ninguém queria estar... do lado de fora.
meu amigo... mesmo com todas as distâncias que impossibilitam a proximidade... vc está sempre por perto... pelo meu carinho verdadeiro, pelo que me leva à restauração do meu viver, pela beleza acalentadora da sua palavra... palavra que chegou qdo estava terminando este texto... e me deu a certeza de continuá-lo...
cada dia mais, agradeço a Deus p vc existir em minha vida...
domingo, 21 de dezembro de 2008
Hoje eu sei...
Não levantou-me de pronto. Primeiro acolheu-me em seu colo, recostou-me em seu ombro e envolveu-me com sua paz.
No chão dos meus pecados o Salvador se inclinara para que pudesse me alcançar. Depois ergueu-me num abraço demorado e conduziu-me pela mão. Paciente, relevou minha demora e inundou-me de amor.
Não que eu quisesse paz. Não que eu quisesse colo. Não que eu quisesse amor. Queria, antes, a solidão da desesperança que havia.
Mas isso não importa ao coração de um Pai.
Antes da vontade, vem o bem querer.
Antes de mim mesma, veio o Seu amor.
E a Sua luz se fez brilho em meu olhar.
Certeza de ser quem sou, quando eu me esqueci de ser alguém.
Certeza de chegar, quando eu não sabia continuar.
Certeza de ser feliz, quando eu só sabia duvidar.
Certeza de ser amada, quando eu não sabia mais amar
Amor que me invade e me devolve
Olhar que me acalenta e faz curar
Voz que me reconduz e que me diz:
"Filha, eu sempre estive aqui...
E nunca te abandonarei..."
Hoje, Pai...
Hoje eu sei...
carla b.
Artifícios
O ressonar sereno da palavra que repousa
é a afirmação precisa de que a vida segue viva.
Afoita, calada, pronta, inacabada,
não se permite amordaçar
pela ameaça do tempo.
Passa, deixa, leva, traz. Não importa!
Viver é conjugar o possível verbo,
que se insinua sem docilidade
e se apodera da contingência existencial do infante poeta.
Dores e ausências são matérias cotidianas.
Alegria, por vezes.
Se vier mais freqüente, a poesia se vai...
Melhor que se esconda por perto,
caso seja solicitada,
para que esteja à mão, sem estar.
Ela substitui a palavra, amordaça o verbo,
desaponta a caneta, tempera o poeta.
A sobriedade é raiz fecunda,
projeto válido para quem deseja o fundo
e não se contenta com a primeira fala.
A força contrária desenvolve heróis...
A força da fala revigora o gesto.
Palavras são artifícios da alma.
Diz quem quer... fala quem pode.
Pe. Fábio de Melo
Do livro "Tempo: Saudades e Esquecimentos"
A quem interessar possa
foi só ontem
que ouvi o que foi dito
estava lá
mas não estava
Deus sabe o porquê
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
São Paulo, 40°
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Belas adormecidas
Minhas palavras, não...
Apenas esperam adormecidas...
Fazem que vêm...
E ficam na expectativa de me ver chegar adiante...
E param na perspectiva do meu chegar que não vem...
Adormecem...
E ficam resumidas...
Na complexidade do tudo que ainda podem ser...
Completas... incertas... esquecidas...
Ainda puras... belas... adormecidas...
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
Fora dos trilhos...
Eu fiquei ali, sem um ruído, tentando digerir minhas incapacidades. Ainda me flagro em pensamentos que não combinam com o que eu quero para mim. E vivo para tentar equilibrar pesos e medidas, pensamentos e palavras, realidades e ilusões. Indigestão anunciada, fazendo-se passar por despercebida ancorando-se em um sorriso de um amarelo senil, esforçando-se por ser arco-íris.
Não sei o que me deu. Mas também não fiz força para saber. Prefiro deixar assim, que se tornem palavras dispersas aqui dentro, que se reconfiguram e se articulam quando fora de mim.
Procurar entender seria uma maneira a mais de fazer doer. Saber porque é uma forma de não saber. Como já disse o poeta, significados definitivos encerram em si conceitos engessados em sua dureza de ser o que é sem que consigam ser o que podem. À miúde, podem muito; à priori, muito pouco serão. Por dentro, movimento que clama liberdade. Por fora, rigidez imposta por definição.
Ainda assim, minha racionalidade adquirida tenta dizer-me o que vai aqui no peito. Incomoda saber que o que me atinge, não é o que recebo do outro, mas o que não encontro quando busco em mim.
E, hoje, foi isso o que aconteceu. O silêncio absurdo que chegou com o inesperado da narrativa a mim imposta, deixou expostas as marcas que não sabia como minhas. Eu as tinha no peito, mas não as admitia como parte de mim. Deixava que ficassem ali quietinhas alimentadas de realidades distorcidas e negativas articuladas em nuances puerís.
Difícil reconhecer-se só diante de suas fraquezas, erros e omissões. Difícil mesmo é o reconhecer-se em si.
O que vejo, sou eu de joelhos diante do que não posso, do que jamais poderei. Tentando sorver em gotas um rio que passa veloz e se faz mar logo adiante. Água que é doce, invadida de sal.
O que sinto, sou eu reconhecendo as cicatrizes que me fiz e as que deixei ferir em mim. Cicatrizes impostas, cicatrizes permitidas, cicatrizes desejadas.
Hoje, a que me dói foi chegando aos poucos. No começo era um calor manso. Depois tornou-se desconforto. Agora é a dor da carne desagregada de sua condição de una que, ferida, sangra o vermelho de suas dores.
Queria naquele momento apenas o direito de nada dizer. Queria o direito de silenciar sem que isso incomodasse ou sucitasse divagações alheias inúteis. Queria o direito de não sorrir uma falsa alegria. E ainda assim, me fazer entender.
Eu pequei. Não compartilhei da alegria dividida. Fui infiel aos meus valores. Fui desconexa com meu caráter. Sorri sem sorrir. Agradeci sem gratidão. Orei sem oração. Invejei o que não pode ser invejado, simplesmente por ser o que o outro gostaria que fosse, e não o a realidade do que de fato existe.
Confessar-me pecadora é virtude pretenciosa? Se for, assumo que não saberia ser de outra forma senão assim. Se for, assumo que peco novamente pela pretensão de achar em mim virtude que valha.
Eu pequei. E o pior é que o pecado continua em mim. Ardendo em minhas ausências, antes inundadas de ilusões. O descortinado da realidade mostrando-me que nada é, diante do que queria que fosse.
E isso veio através do detalhe de simples palavra no meio daquilo tudo que meus ouvidos sorviam - "Também". Veio inundada de um orgulho besta que antes era meu e eu não sabia. "Também". Veio arrebatar-me do pensamento que me julgava estar em lugar diferente, mais acercado do que os longes laivos em que me encontrava ancorada.
Importante eu parar.
Para deixar o que dói desembarcar.
Depois... Importante não parar.
(Não entendeu? Que bom. Pensei que tinha sido só eu.)
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...
São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.
São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.
Fernando Pessoa