Artifícios
O ressonar sereno da palavra que repousa
é a afirmação precisa de que a vida segue viva.
Afoita, calada, pronta, inacabada,
não se permite amordaçar
pela ameaça do tempo.
Passa, deixa, leva, traz. Não importa!
Viver é conjugar o possível verbo,
que se insinua sem docilidade
e se apodera da contingência existencial do infante poeta.
Dores e ausências são matérias cotidianas.
Alegria, por vezes.
Se vier mais freqüente, a poesia se vai...
Melhor que se esconda por perto,
caso seja solicitada,
para que esteja à mão, sem estar.
Ela substitui a palavra, amordaça o verbo,
desaponta a caneta, tempera o poeta.
A sobriedade é raiz fecunda,
projeto válido para quem deseja o fundo
e não se contenta com a primeira fala.
A força contrária desenvolve heróis...
A força da fala revigora o gesto.
Palavras são artifícios da alma.
Diz quem quer... fala quem pode.
Pe. Fábio de Melo
Do livro "Tempo: Saudades e Esquecimentos"
Nenhum comentário:
Postar um comentário