vou tecendo, costurando...
unindo em fios o desalinho de
vida que ficou.
Se me distraio, perco o fio,
furo o dedo e cai carmim.
O sangue que corre é o mesmo que
a linha une:
seda rubra que cobre vermelhando
a prata da pele.
Feliz ofício que sara e reúne,
desvendando um novo
nas partes do que um dia pensava
ser um todo.
Se continuo, vou franzindo,
rebordando...
fazendo renda do que um dia foi
um nó.
Pra colocar botão, tenho que
fazer casa.
O que entra, pede ter lugar por
onde entrar.
Do meu choro, tiro o tempero e a
cor:
pra sorrir assim, é preciso de
sal, suor e um pouco de dor
Teço em vermelho, choro em
amarelo, sorrio em cores de rosas...
Alinhavo o que falta e retiro o
que é excesso, verde musgo e cinza chumbo.
Corto o fio, salgo a carne, deixo
o tempo passar.
Continuo, recomeço,
Volto o ponto, desfaço o feio,
Caseio o que há de ser belo.
Vou tecendo entremeados....
De linhas, agulhas e mãos
ligeiras,
faço de mim, o meu tear...
(carla balthazar)
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