sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Entre Linhas...



De linha, agulha e mãos ligeiras
vou tecendo, costurando...
unindo em fios o desalinho de vida que ficou.

Se me distraio, perco o fio,
furo o dedo e cai carmim.
O sangue que corre é o mesmo que a linha une:
seda rubra que cobre vermelhando a prata da pele.

Feliz ofício que sara e reúne, desvendando um novo
nas partes do que um dia pensava ser um todo.

Se continuo, vou franzindo, rebordando...
fazendo renda do que um dia foi um nó.

Pra colocar botão, tenho que fazer casa.
O que entra, pede ter lugar por onde entrar.

Do meu choro, tiro o tempero e a cor:
pra sorrir assim, é preciso de sal, suor e um pouco de dor

Teço em vermelho, choro em amarelo, sorrio em cores de rosas...
Alinhavo o que falta e retiro o que é excesso, verde musgo e cinza chumbo.
Corto o fio, salgo a carne, deixo o tempo passar.

Continuo, recomeço,
Volto o ponto, desfaço o feio,
Caseio o que há de ser belo.
Vou tecendo entremeados....
De linhas, agulhas e mãos ligeiras,
faço de mim, o meu tear...



(carla balthazar)


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