domingo, 21 de dezembro de 2008

Hoje eu sei...


Ele chegou sem pressa de ir embora. Sentou-se ao meu lado e lamentou cena tão incompatível. Como podia, eu ali, diante da eternidade que era minha por herança, fazendo do tudo recebido, um nada abandonado.

Acariciou meu rosto molhado e secou as lágrimas insistentes. Ouviu meus rancores, minhas dores, meus horrores.

Não levantou-me de pronto. Primeiro acolheu-me em seu colo, recostou-me em seu ombro e envolveu-me com sua paz.

No chão dos meus pecados o Salvador se inclinara para que pudesse me alcançar. Depois ergueu-me num abraço demorado e conduziu-me pela mão. Paciente, relevou minha demora e inundou-me de amor.

Não que eu quisesse paz. Não que eu quisesse colo. Não que eu quisesse amor. Queria, antes, a solidão da desesperança que havia.

Mas isso não importa ao coração de um Pai.
Antes da vontade, vem o bem querer.
Antes de mim mesma, veio o Seu amor.

E a Sua luz se fez brilho em meu olhar.
Certeza de ser quem sou, quando eu me esqueci de ser alguém.
Certeza de chegar, quando eu não sabia continuar.
Certeza de ser feliz, quando eu só sabia duvidar.
Certeza de ser amada, quando eu não sabia mais amar

Amor que me invade e me devolve
Olhar que me acalenta e faz curar
Voz que me reconduz e que me diz:

"Filha, eu sempre estive aqui...
E nunca te abandonarei..."

Hoje, Pai...
Hoje eu sei...

carla b.

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