sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

São Paulo, 40°


Estranho como a fragilidade da matéria nos impõe, quase de imediato, a fragilidade da alma.

O que ontem era insuportável, hoje dói para curar, amanhã levanta e segue adiante.

Arder em febre e o frio que dá, remete o corpo à sua inutilidade desconcertante, ainda que passageira. Faz-nos lembrar da nossa pequenez humana, e nos dilacera diante de algo que sequer conseguimos ver a olho nú.

Mas, felizmente, aprender a olhar a vida com os olhos nús tem suas vantagens. Assim, podemos ver sabedoria até nas dores dos dias viróticos.

Coisa boa é o silêncio que há. Ter que passar várias e várias horas sem falar, sem a obrigação de pensar palavras ordenadas e dizê-las mesmo quando as queremos ocultar, pode ser um santo remédio para as dores da alma. Melhor ouvimos o coração quando silenciamos a boca.

Outra coisa que pode ser boa é a dor que dói em todo o corpo e nos limita os movimentos. Ela nos autoriza a estar na cama às 11 da manhã sem que tenhamos que nos perder em explicações de agenda. Leseira só é permitida quando é doída.

Mas para essas dores... as do corpo... não cabe o silêncio imperativo e oportuno... essas ainda precisam de palavras ditas... vitamina C, paracetamol, mto líquido e cama.

E vick vaporub... pq (já dizia o poeta) dormir com nariz entupido é a própria materialização do inferno, que deve ter cheiro de vick vaporub...

[noites mal dormidas têm cheiro de vick vaporub...]

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