sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Entre Linhas...



De linha, agulha e mãos ligeiras
vou tecendo, costurando...
unindo em fios o desalinho de vida que ficou.

Se me distraio, perco o fio,
furo o dedo e cai carmim.
O sangue que corre é o mesmo que a linha une:
seda rubra que cobre vermelhando a prata da pele.

Feliz ofício que sara e reúne, desvendando um novo
nas partes do que um dia pensava ser um todo.

Se continuo, vou franzindo, rebordando...
fazendo renda do que um dia foi um nó.

Pra colocar botão, tenho que fazer casa.
O que entra, pede ter lugar por onde entrar.

Do meu choro, tiro o tempero e a cor:
pra sorrir assim, é preciso de sal, suor e um pouco de dor

Teço em vermelho, choro em amarelo, sorrio em cores de rosas...
Alinhavo o que falta e retiro o que é excesso, verde musgo e cinza chumbo.
Corto o fio, salgo a carne, deixo o tempo passar.

Continuo, recomeço,
Volto o ponto, desfaço o feio,
Caseio o que há de ser belo.
Vou tecendo entremeados....
De linhas, agulhas e mãos ligeiras,
faço de mim, o meu tear...



(carla balthazar)


O Natal do lado de fora...



Cheguei na Tijuca como quem não queria chegar. Meu coração estava incerto sobre o que aconteceria naquele Natal. Nos últimos três anos havia passado este dia lembrando-me daquele em que o coração da minha mãe resolveu não mais continuar.

Mas agora eu tenho trilhado caminhos de restauração. Assumi o papel que me cabe de protagonista da minha vida. Aprendi com um grande amigo que sofrimentos que não nos impulsionam para frente são inúteis e nada acrescentam em nossa caminhada.

Sofrer é verbo que não se pode deixar de conjugar. Basta viver e já se conjuga este verbo indissociável da condição de ser humano. Bom mesmo é cultivar o sofrimento inevitável no tempo certo, e depois fazer a colheita dos frutos que ele traz. Sempre traz. Eu provei isso na carne.

Neste ano, reconciliando-me com meus enganos, curando-me das dores que antes cultivava, resolvi não passar o Natal em casa. Não teria o menor problema em passá-lo sozinha em casa. Afinal, era por dentro que estava curada. As exterioridades nem sempre acompanham o que vai no coração. Casa cheia não é sinônimo de coração cheio. Aceitei, enfim, o convite tantas vezes negado e fui, sem que pudesse imaginar o que estava reservado para mim.

Carro cheio, ruas cheias de gente indo para suas ceias... Tudo aparentemente tão festivo, tão perfeito. Nada que a sombra das esquinas da vida pudesse alcançar. Quase nada. Fui chegando e ao parar o carro ele já me olhava. Não sabia que me olhava, mas sentia seus olhos cravando meu peito.

Encolhido no vão de entrada da imponente casa que servia à uma empresa, na subida do Alto da Boa-Vista, ele parecia dormir. Mas algo ali estava desperto e me olhava nos olhos. Senti uma inquietação e uma vontade imensa de saber quem era aquele homem. Voltaria para saber.

A celebração do nascimento do Deus menino foi regada a músicas que não condiziam em nada com a mística do significado do momento. Já sabia que assim seria. Jovens embriagando-se sem compreenderem o que estava sendo celebrado ali. Por fim, um momento de oração à custa da indignação da Simone ao ver a indiferença diante do homenageado da noite.

Naquele momento senti vontade de pedir por aquele de quem sequer sabia o nome. A noite passou e não consegui desvencilhar-me daquela cena que se passava ali, tão perto.

Já estava me preparando para ir embora, buscando uma forma de levar algo para aquele que acompanhou minha noite. Foi quando o Guima surpreendeu-me em meu querer e falou: "Eu quero levar alguma coisa para um rapaz que está lá fora". Eu sabia quem era: "Eu sei. Eu também", respondi.


Preparei o prato, sobremesa e refrigerante. O que acontecia ali era maior que aquilo e eu sabia. Sabia que aquele gesto era pequeno demais, mas não me alcançava outro possível. Um prato de comida para uma fome suplicante pode ser tudo. Mas não resolve. É paliativo apesar de justo. Mas também sei que não adianta dizer ao que sofre que aguarde por planos grandiosos para a resolução de todos os seus problemas. O urgente é o que há de ser feito.
A salvação do homem pelo homem começa nas pequenas coisas. Nos pequenos gestos. No prato de comida. Na sopa quente em madrugada fria. Na coberta que dispensa o jornal velho. Nas pequenas e individuais atitudes de quem se compadece e dá o primeiro passo, que junto a outros passos, chegarão a algum lugar.

Fomos juntos, eu e Guima, até o local que já me aguardava desde cedo. A pouca luz do local não impediu minha surpresa. Sob o cabelo longo e a barba espessa, sob as roupas poídas e a coberta que mal cobria, sob a sujeira aparente e a dor que não podíamos ver, revelou-se uma fisionomia jovem, transfigurada pela solidão e sofrimento. Seu olhar, ainda meio adormecido, demonstrava não entender o que estava acontecendo. Por certo, não esperava ceia naquela noite.

Com misto de vergonha e educação ele sentou-se acolheu os alimentos que levávamos.
- "Obrigado."
- "Você não tem família, rapaz?" Perguntou meu amigo Guima.
- "Não tenho ninguém aqui. Sou do Espírito Santo."

Um silêncio se fez e em meu coração cresceu uma vontade de saber mais sobre aquele homem. O que o levara até aquele momento. Até aquela calçada. Saber sobre os sonhos que ele viera colher no Rio de Janeiro e que deixara pelos caminhos da vida. Mas calei.

Nos despedimos e quando já retornávamos à casa, resolvi voltar ao homem.
- "Moço, como é mesmo o seu nome?"
- "Marcos. Eu me chamo Marcos."
- "Marcos.... nome bonito. Nome de Apóstolo de Cristo." Foi só o que consegui dizer.

O sorriso que não viera diante da certeza da fome saciada veio agora timidamente. Sua felicidade transbordou diante da minha simples pergunta. Marcos não falou mais nada. Nem eu. Não foi necessário.
Tive ali a certeza de que, para aquele homem, o verdadeiro presente da noite foi alguém perguntar o seu nome. Quantas vezes ele foi chamado pelo nome depois que a vida o colocou naquela situação de indigência? Quantas vezes alguém se interessara em saber? Certamente não muitas.

Nossos passos corridos do dia-a-dia acostumamo-nos com a miséria do outro. Passamos diversas vezes diante de seres humanos jogados em calçadas e becos e fingimos não ver. A pressa e as responsabilidades cotidianas são boas desculpas. Quando nos permitimos notar sua presença ali, os encaramos como um estorvo, como um incômodo dejeto social, como fracassados ou incapazes. Esquecemos que eles têm um nome, que têm uma história.

Acredito que o sorriso do Marcos foi maior para ele mesmo. Aquela pergunta, saber o seu nome, foi como se ele tivesse se recordado de sua identidade. Foi como se, de repente, ele tivesse sido transportado novamente à dignidade humana um dia perdida nas ruas. Foi como se tivesse ficado feliz por ter se lembrado de quem ele é.

Voltei para a festa mas permaneci naquele momento. Finalmente entendi porque Deus havia me conduzido até aquela casa. Encontrei-o no sorriso daquele jovem. Fiquei feliz por estar ali.
Neste Natal, não recebi nenhum presente, não falei com muita gente. Mas o que Deus me proporcionou ficará guardado em mim. Marcos nunca saberá, mas ele foi o melhor presente que eu poderia ter recebido.


O melhor Natal não estava na ceia, não estava nos presentes, nem na alegria das crianças. O melhor Natal, me aguardava onde ninguém queria estar... do lado de fora.



meu amigo... mesmo com todas as distâncias que impossibilitam a proximidade... vc está sempre por perto... pelo meu carinho verdadeiro, pelo que me leva à restauração do meu viver, pela beleza acalentadora da sua palavra... palavra que chegou qdo estava terminando este texto... e me deu a certeza de continuá-lo...

cada dia mais, agradeço a Deus p vc existir em minha vida...

domingo, 21 de dezembro de 2008

Hoje eu sei...


Ele chegou sem pressa de ir embora. Sentou-se ao meu lado e lamentou cena tão incompatível. Como podia, eu ali, diante da eternidade que era minha por herança, fazendo do tudo recebido, um nada abandonado.

Acariciou meu rosto molhado e secou as lágrimas insistentes. Ouviu meus rancores, minhas dores, meus horrores.

Não levantou-me de pronto. Primeiro acolheu-me em seu colo, recostou-me em seu ombro e envolveu-me com sua paz.

No chão dos meus pecados o Salvador se inclinara para que pudesse me alcançar. Depois ergueu-me num abraço demorado e conduziu-me pela mão. Paciente, relevou minha demora e inundou-me de amor.

Não que eu quisesse paz. Não que eu quisesse colo. Não que eu quisesse amor. Queria, antes, a solidão da desesperança que havia.

Mas isso não importa ao coração de um Pai.
Antes da vontade, vem o bem querer.
Antes de mim mesma, veio o Seu amor.

E a Sua luz se fez brilho em meu olhar.
Certeza de ser quem sou, quando eu me esqueci de ser alguém.
Certeza de chegar, quando eu não sabia continuar.
Certeza de ser feliz, quando eu só sabia duvidar.
Certeza de ser amada, quando eu não sabia mais amar

Amor que me invade e me devolve
Olhar que me acalenta e faz curar
Voz que me reconduz e que me diz:

"Filha, eu sempre estive aqui...
E nunca te abandonarei..."

Hoje, Pai...
Hoje eu sei...

carla b.

Artifícios

Artifícios

O ressonar sereno da palavra que repousa
é a afirmação precisa de que a vida segue viva.
Afoita, calada, pronta, inacabada,
não se permite amordaçar
pela ameaça do tempo.
Passa, deixa, leva, traz. Não importa!
Viver é conjugar o possível verbo,
que se insinua sem docilidade
e se apodera da contingência existencial do infante poeta.
Dores e ausências são matérias cotidianas.
Alegria, por vezes.
Se vier mais freqüente, a poesia se vai...
Melhor que se esconda por perto,
caso seja solicitada,
para que esteja à mão, sem estar.
Ela substitui a palavra, amordaça o verbo,
desaponta a caneta, tempera o poeta.
A sobriedade é raiz fecunda,
projeto válido para quem deseja o fundo
e não se contenta com a primeira fala.
A força contrária desenvolve heróis...
A força da fala revigora o gesto.
Palavras são artifícios da alma.
Diz quem quer... fala quem pode.



Pe. Fábio de Melo
Do livro "Tempo: Saudades e Esquecimentos"

A quem interessar possa

a palavra chegou depois
foi só ontem
que ouvi o que foi dito
estava lá
mas não estava
Deus sabe o porquê

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

São Paulo, 40°


Estranho como a fragilidade da matéria nos impõe, quase de imediato, a fragilidade da alma.

O que ontem era insuportável, hoje dói para curar, amanhã levanta e segue adiante.

Arder em febre e o frio que dá, remete o corpo à sua inutilidade desconcertante, ainda que passageira. Faz-nos lembrar da nossa pequenez humana, e nos dilacera diante de algo que sequer conseguimos ver a olho nú.

Mas, felizmente, aprender a olhar a vida com os olhos nús tem suas vantagens. Assim, podemos ver sabedoria até nas dores dos dias viróticos.

Coisa boa é o silêncio que há. Ter que passar várias e várias horas sem falar, sem a obrigação de pensar palavras ordenadas e dizê-las mesmo quando as queremos ocultar, pode ser um santo remédio para as dores da alma. Melhor ouvimos o coração quando silenciamos a boca.

Outra coisa que pode ser boa é a dor que dói em todo o corpo e nos limita os movimentos. Ela nos autoriza a estar na cama às 11 da manhã sem que tenhamos que nos perder em explicações de agenda. Leseira só é permitida quando é doída.

Mas para essas dores... as do corpo... não cabe o silêncio imperativo e oportuno... essas ainda precisam de palavras ditas... vitamina C, paracetamol, mto líquido e cama.

E vick vaporub... pq (já dizia o poeta) dormir com nariz entupido é a própria materialização do inferno, que deve ter cheiro de vick vaporub...

[noites mal dormidas têm cheiro de vick vaporub...]

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Belas adormecidas


Onde estou, ando sumida...

Minhas palavras, não...
Apenas esperam adormecidas...
Fazem que vêm...
E ficam na expectativa de me ver chegar adiante...
E param na perspectiva do meu chegar que não vem...
Adormecem...
E ficam resumidas...
Na complexidade do tudo que ainda podem ser...
Completas... incertas... esquecidas...
Ainda puras... belas... adormecidas...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Fora dos trilhos...

Hoje uma notícia veio com fúria em seu poder de atingir-me. Não exatamente o contexto, mas o detalhe. Chegou de onde eu menos esperava e num susto, quase levantou-me do chão. Quase. Eu não sei bem se o que senti foi um misto de revolta e inveja ou arrependimento e uma dor que não veio só. Uma dor que alcançou a alma, uma dor que não veio de fora, mas de dentro de mim. Eu não temo confessar as fraquezas de que é feito o meu coração. Aprendi que falar do obscuro que se esconde em meus recantos artificialmente iluminados pode significar descobrir saídas desconhecidas.

Eu fiquei ali, sem um ruído, tentando digerir minhas incapacidades. Ainda me flagro em pensamentos que não combinam com o que eu quero para mim. E vivo para tentar equilibrar pesos e medidas, pensamentos e palavras, realidades e ilusões. Indigestão anunciada, fazendo-se passar por despercebida ancorando-se em um sorriso de um amarelo senil, esforçando-se por ser arco-íris.

Não sei o que me deu. Mas também não fiz força para saber. Prefiro deixar assim, que se tornem palavras dispersas aqui dentro, que se reconfiguram e se articulam quando fora de mim.

Procurar entender seria uma maneira a mais de fazer doer. Saber porque é uma forma de não saber. Como já disse o poeta, significados definitivos encerram em si conceitos engessados em sua dureza de ser o que é sem que consigam ser o que podem. À miúde, podem muito; à priori, muito pouco serão. Por dentro, movimento que clama liberdade. Por fora, rigidez imposta por definição.

Ainda assim, minha racionalidade adquirida tenta dizer-me o que vai aqui no peito. Incomoda saber que o que me atinge, não é o que recebo do outro, mas o que não encontro quando busco em mim.

E, hoje, foi isso o que aconteceu. O silêncio absurdo que chegou com o inesperado da narrativa a mim imposta, deixou expostas as marcas que não sabia como minhas. Eu as tinha no peito, mas não as admitia como parte de mim. Deixava que ficassem ali quietinhas alimentadas de realidades distorcidas e negativas articuladas em nuances puerís.

Difícil reconhecer-se só diante de suas fraquezas, erros e omissões. Difícil mesmo é o reconhecer-se em si.

O que vejo, sou eu de joelhos diante do que não posso, do que jamais poderei. Tentando sorver em gotas um rio que passa veloz e se faz mar logo adiante. Água que é doce, invadida de sal.

O que sinto, sou eu reconhecendo as cicatrizes que me fiz e as que deixei ferir em mim. Cicatrizes impostas, cicatrizes permitidas, cicatrizes desejadas.

Hoje, a que me dói foi chegando aos poucos. No começo era um calor manso. Depois tornou-se desconforto. Agora é a dor da carne desagregada de sua condição de una que, ferida, sangra o vermelho de suas dores.

Queria naquele momento apenas o direito de nada dizer. Queria o direito de silenciar sem que isso incomodasse ou sucitasse divagações alheias inúteis. Queria o direito de não sorrir uma falsa alegria. E ainda assim, me fazer entender.

Eu pequei. Não compartilhei da alegria dividida. Fui infiel aos meus valores. Fui desconexa com meu caráter. Sorri sem sorrir. Agradeci sem gratidão. Orei sem oração. Invejei o que não pode ser invejado, simplesmente por ser o que o outro gostaria que fosse, e não o a realidade do que de fato existe.

Confessar-me pecadora é virtude pretenciosa? Se for, assumo que não saberia ser de outra forma senão assim. Se for, assumo que peco novamente pela pretensão de achar em mim virtude que valha.

Eu pequei. E o pior é que o pecado continua em mim. Ardendo em minhas ausências, antes inundadas de ilusões. O descortinado da realidade mostrando-me que nada é, diante do que queria que fosse.

E isso veio através do detalhe de simples palavra no meio daquilo tudo que meus ouvidos sorviam - "Também". Veio inundada de um orgulho besta que antes era meu e eu não sabia. "Também". Veio arrebatar-me do pensamento que me julgava estar em lugar diferente, mais acercado do que os longes laivos em que me encontrava ancorada.

Eu pequei. Por pensar. Por ser. Por não querer saber pecado o que doía em desacerto.
Mas eu continuo nos desencontros dos meus trilhos. O pecado também.

Importante eu parar.

Para deixar o que dói desembarcar.

Depois... Importante não parar.









(Não entendeu? Que bom. Pensei que tinha sido só eu.)


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O que me dói não é

O que me dói não é
O que há no coração
Mas essas coisas lindas
Que nunca existirão...


São as formas sem forma
Que passam sem que a dor
As possa conhecer
Ou as sonhar o amor.


São como se a tristeza
Fosse árvore e, uma a uma,
Caíssem suas folhas
Entre o vestígio e a bruma.


Fernando Pessoa



domingo, 2 de novembro de 2008

Só Tu...



Só Tu...
Dos lábios que me beijaram,
Dos braços que me abraçaram
Já não me lembro, nem sei...
São tantas as que me amaram!
São tantas as que eu amei!

Mas tu - que rude contraste!
Tu, que jamais me beijaste,
Tu, que jamais abracei,
Só tu, nest'alma, ficaste,
De todas as que eu amei.


(Paulo Setúbal)

quinta-feira, 30 de outubro de 2008
















Talvez quisesse que não fosse verdade
a felicidade que ora insiste em não me deixar só...
Incomoda... e me diz que não devo parar...
acostumei em não encontrá-la por aí
E agora que está aqui, fico sem saber...

...parar o quê?

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

A fruta só

Sabe quando tem algo assim...
gritanto, implorando, querendo sair de mim?
É que me inquieto e tudo parece silêncio...
E tudo parece não ter mais por onde ficar.
Igual tomate que é fruta...
mas não combina com o meu pomar.

Então resolvo...
Que fique em outra de mim.
Eu, aqui, só fico só.

Raiz pra fora e semente pra dentro...


Dona Doida


Uma vez, quando eu era menina, choveu grosso,
com trovoada e clarões, exatamente como chove agora.
Quando se pôde abrir as janelas,
as poças tremiam com os últimos pingos.
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.
A mulher que me abriu a porta, riu de dona tão velha,
com sombrinha infantil e coxas à mostra.
Meus filhos me repudiaram envergonhados,
meu marido ficou triste até a morte,
eu fiquei doida no encalço.
Só melhoro quando chove.

Adélia Prado

domingo, 26 de outubro de 2008

Entremeados...


Conhecia Adélia Prado de alguns livros e sites de poesia, mas confesso que apenas procurei me inteirar de sua obra, após presenciar vários momentos onde Padre Fábio expressava em palavras e emoção a sua admiração pela autora mineira.

Na última sexta, durante a aula de cinema e literatura, durante a apresentação das sugestões de eventos culturais para o final de semana, um amigo trouxe-nos Adélia. Uma degustação literária com textos dela, aconteceria em um dos centros culturais do Rio... "A Carla gosta, professora!" já apontando outra amiga, como criança que quer constranger o colega...

Sorte que minha memória não estava lá tão mal assim... e mesmo dentro da minha timidez, atendi à solicitação da professora e falei alguns trechos que estavam em mim. A professora, inspirada, começou a lembrar de alguns... e eis que surge o nosso tema literário da semana... vida e obra de Adélia Prado. Incluindo um de seus textos, à nossa escolha, para recitarmos em grande estilo!

Fiquei emocionada e feliz... em ver como a vida é feita de tramas... de fios que, desconhecidos, se entrelaçam e formam um todo familiar que dá algum sentido ao nosso coração...

Ontem foi o dia de Adélia... por coincidência, no Centro Cultural da Justiça Eleitoral, que ocupou o antigo prédio que tanto conheceu meus passos de menina. Subi as escadas voltando no tempo, quando acompanhava minha tia em visitas saudosas ao antigo local de trabalho. Ela e minha avó haviam dedicado grande parte de sua vida àquelas salas... as imponentes pinturas de Antônio Parreiras as viram passar inúmeras vezes com seus cabelos impecáveis e saltos tagarelando alto no imenso pé direito que culmina numa cúpula, por onde entra, teimoso, o mesmo sol de outrora. Tudo revestia-se de um significado novo, maior.

Assim cheguei pra ver Adélia.... foi tão bonito que ela também teria chorado conosco ao ver a interpretação das jovens atrizes. Coloquei-me ao alcance de suas palavras e deixei-me render pela emoção...

Levei as impressões daquele momento durante o passeio pela orla de Copacabana... tanto, que ao passar pelo calçadão onde Carlos Drummond de Andrade sentava-se displicentemente em um dos bancos, quase pude ouvi-lo dizer: "Dê-me notícias... como vai minha menina fenomenal?"...

Mas a noite ainda não terminara e na mesma orla de Drummond, a poesia me alcançou novamente em forma de arte... uma amiga queria nos apresentar a um artista da feirinha do posto 5, Abdiá de Sá... e lá estava Deus e seus pequenos detalhes.

Do lixo, Abdiá faz poesia. Retira do ferro-velho, do entulho, a matéria prima de sua arte. O que é jogado fora, ele recolhe... e com suas mãos de artista e a sensibilidade de um poeta, transforma em arte e beleza...

Ele nos explica, com sua fala cheia de sabedoria, que um de seus "Dom Quixote" era diferente... era o maior de todos... este finalmente iria encontrar a Dulcinéia. Por isso, ao invés de um escudo, trazia na mão uma rosa e um pergaminho... onde ele havia escrito tudo o que sempre quis dizer à sua amada... Retirou o pergaminho de aço da escultura e colocou em nossas mãos: "Pesado, não é? É o peso de todo o amor que ele arrastou pela vida... ele tinha muito a escrever... as palavras pesam."

As palavras pesam. Pesaram as da Adélia. Pesaram as de Abdiá. Mas um peso que não cansa. Um peso que faz ficar em nós.

Voltamos em meu carro comentando a simplicidade e a emoção daqueles momentos. Após todos seguirem seus caminhos, segui o meu pensando... Meu Deus! Afinal, viver também não é isso? A poesia de um chuchu novinho e a arte que temos que fazer com o que foi parar no lixo??? Porque... sinceramente... se não for isso o que temos que fazer com o nosso lixo, então retiro tudo o que disse até hoje e digo que não sei mais o que é viver...

Atravessei a ponte sem lembrar de ligar o CD. só pensava na feira do dia seguinte: "moço... vc tem chuchu bem novinho?".

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

A estrada que há em mim...


Estive em Petrópolis ontem para comprar os ingressos para o show do Padre Fábio de Melo...

Na última vez que estive lá para assistir ao programa Direção Espiritual, já era noite quando subi, e ainda não havia amanhecido quando voltei... não pude ver o que o caminho havia reservado pra mim.

Estava começando a subir a serra e o sol forte manchava o chão com sombras e lembranças...

Como um susto, aquelas árvores que brincavam com a luz levaram-me de volta a um tempo que eu havia esquecido guardado em algum lugar. O brilho que me ofuscava a visão era o mesmo que encantava a menina do banco de trás, que fazia questão de sentar de um jeito que pudesse ver a estrada e o vai-e-vem dos pés e mãos do motorista.

Chegavam as férias e eu aguardando só por aquele momento. O engraçado... é que percebi que tenho poucas lembranças dos dias na casa de Petrópolis... Mas não esqueci o fascínio das sombras do caminho que tantas vezes me viu passar.

Me fiz menina de novo e chorei a saudade daqueles dias, onde tinha não só as sombras... tinha o colo de mãe, pai, avó, tia... onde eu deitava para sentir a luz fugidia e ver as curvas que revelavam outras curvas...

Parei na queijaria... afinal, estava menina e criança não pode dirigir... Alguém perguntou se estava tudo bem... e estava. Existem saudades boas que esquecemos de lembrar. Esta foi uma delas.

O que ficou daqueles dias hoje faz parte de mim. Dirigir ficou como uma paixão. Estrada é quase um lugar sagrado, onde tenho aprendido coisas que os caminhos cotidianos não poderiam dizer. É onde me coloco pequena que sou, e vejo como recebo bem mais do que mereço.

Fiquei feliz pela lembrança recuperada...
pelos ingressos disputados...
pelo que sei que ainda virá...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Para mim...


Escrevo porque encontro nisso
um prazer que não consigo traduzir.
Não sou pretenciosa. Escrevo para mim,
para que eu sinta a minha alma falando
e cantando, às vezes chorando.

(Clarice Lispector)

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Fechado para balanço...


Estou sentindo muito frio. Parece que o sol desses dias, que tão quentes têm sido, não deixou resquícios nesta madrugada escura. O frio de fora, ainda que intenso, não é maior do que o que vai aqui por dentro do meu peito. Não deveria ser assim. O calor das coisas que me inquietam não tem as cores de um sol que aquece. Queima gelado. É doído e desconcertante saber o gelo deste calor.

Estou com um não sei o quê nas minhas veias. Uma inquietação. Me sinto inadequada a tudo. Como se não coubesse no que tenho que ser. Eu inquieto, desaprumo, descompasso. Será que isso é coisa que se sinta? Já não sei mais se caibo dentro do normal que as coisas têm que ser em mim. Perdoem-me, mas as lágrimas passeiam na nitidez da minha visão e assim escrevo. Algo há de não sair bem.

Eu não sei mais viver como era e não sei se isso é bom. Tudo o que sempre revestiu meus caminhos já não serve mais pra muita coisa. O que veio com a novidade em minha estrada está perdido em seu caminho dissonante. Não sei o que fazer com os sentimentos que procuram abrigo em mim. Também não sei o que fazer com o que é de mim que vai por fora de tudo.

O que comprime o ar em meu peito é sentimento que deixei crescer, erva daninha que é, no espaço que ficou oco entre dois sonhos. Já não sei o que é normal. A normalidade passou por caminhos distintos do meu e, por mais que eu negue, já perdemos nossa intimidade.

Estou pela metade, não consigo me achar completa. Ainda que me desfaça em metades, não saberia achar o outro lado do que era eu. Estranho sentir que não tem lugar. Não tem espaço para ser e, ainda assim, é o que me preenche os dias, é o que me esvazia as noites.

Queria agora não ter que dizer nada. Queria bastar-me na ausência de mim mesma. Derramar-me qual vela transfomada pelo fogo, que se esvai lenta e difusa, e pára um pouco além em sua própria dureza reconquistada.

Queria apenas não ser por um momento. Queria a liberdade de poder dizer que já não sou e nem estou. Para assim, refazer-me, até que chegue o tempo de superar o casulo que me limita e renascer em um dia claro.


Enquanto isso, lá fora, só um aviso...

Não insista: Fechado para balanço.


sábado, 11 de outubro de 2008

Meu coração anda reclamando o que por direito é seu
A paz que eu pensei soubesse existir
E que agora não sabe mais por onde chegar até aqui

Hoje um desassossego ronda o ritmo dos meus passos
E cheia de coisas vazias, parece que vou sublimar

Dá pra voltar pro final da fila???


sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Quisera eu...

Quisera eu...
Ter o dom de saber escrever.
Aí, quem sabe, colocaria por aqui e ali
Um tanto de tudo que não consigo colocar para fora.
Iria tecendo, em verso e prosa,
Minhas lágrimas e seus motivos,
Meus sorrisos e seus desatinos.
Iria dizer, por assim dizer,
O que muitas vezes a boca professa mas não diz.
Porque a boca só diz o que quer,
Não o que a gente sente.
Palavra dita é escrava do ouvido alheio.
É imediata e precisa do outro pra fazer sentido.
Já o que eu escrevo,
Isso lá pode ficar por anos numa gaveta esquecido
E ainda assim, terá saído de mim.
Até passar a vergonha de dizê-lo livre,
Ou a até chegar a coragem que faltou para dizê-lo meu.
Escrever é lindo ofício de não dizer.
É espera e solução.
É remédio e perdição.
Quisera eu saber poder.

Quisera eu...






quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Água na janela

Hoje o dia chegou de mansinho
Me encontrou ainda tentando entender que já não era noite
Chegou com frio, chuva e uma neblina densa
Ele chegou, e eu fui deitar
Ouvi os passarinhos chegando, barulhando...
Procurando a água que eu não colocara
Então o sono ficou pra depois
Mas já era depois afinal
Eu precisava sorrir para os beija-flores
Dormir podia esperar
A água não...

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

o vermelho que dói em mim...

entrei no limite das palavras...
não consigo de onde tirá-las...
estou devendo em vermelho...
mas não sei que de que cor é este vermelho...
escarlate... vinho... vivo... sangue...
ou seria apenas
um carmim...
cá dentro...
correndo nas veias...
doendo em mim...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Demora feliz

Hoje tenho o sabor doce das horas sem demoras. Sinto que o dia não tem razão pra acabar na noite que se aproxima. Como se fosse possível carregar no que se sente, a fartura das horas contadas nos ponteiros do relógio, e assim conseguir fazer com que a hora de acabar não se acabe quando deve.

Queria poder cantar este dia com acordes de harmonia e perfeição. Mas não são os dias perfeitos que merecem a eternidade do descompasso das horas. Dias perfeitos são planície onde o rio não corre, mas se arrasta a procura de uma queda que o impulsione. O diverso das cores e o contraditório das emoções é que dá a medida do que vale a pena continuar.

Ter a felicidade por si só não faz a diferença de uma vida. O que me dá motivo de sorrir é a lágrima que um dia derramei. Se não tiver a oportunidade de ser só, não saberei o proveito da presença que me acalenta.

Como a solidão faz do outro um tesouro a cuidar,
o frio dá sentido ao calor.
a lágrima dá gosto ao sorriso.
o grito dá razão ao silêncio.
a queda dá leveza ao levantar.
o insondável dá motivo à fé.

Hoje, é um desses dias que tenho ansiado, dia dessas horas pelas quais tenho esperado... Quando a vida parece que fica em suspenso para que o paradoxo dos meus contrários passe por mim sem pressa de ir embora. Eu espero por essas horas e elas esperam também em mim. E assim me descubro feliz por poder entender que felicidade não se apreende em um só significado.

Felicidade é coisa que não se define, é coisa que não existe assim, como um vocábulo a ser exemplificado. Felicidade, a que existe (e isso não é pecado haver em mim), é a segurança dos meus erros que me apontam os acertos. É tudo aquilo que há em mim que me faz perceber o outro como um componente do que há em mim.

O que de fato existe,
é esse sorriso bobo
De quem entendeu que viver
é feito de opostos, de verdades díspares e momentos ímpares
é feito do sal no meu sorriso,
de sangue, suor e colheita.

E que ser feliz
é só um jeito de reconhecer
que opostos não se atraem
mas se complementam pela diferença que hão de ter

E assim, as horas se demoram em mim
Sem pressa... cultivando laços, abrindo espaços
E eu vou me deixando demorar
No incompatível que há em mim...
feliz, vivendo enfim...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Mais uma noite...

6h30...

da janela do meu quarto eu vejo...

...o sol chegando e trazendo consigo a brancura da tela virgem que prenuncia possibilidades...
Eu indo tentar deixar meus sonhos se ocuparem do sono que não consigo encontrar...
Vamos ter um lindo dia, com certeza...

Sem querer eu percebo que tenho a janela no lugar que eu sempre quis...

"Casinha Branca"

Eu tenho andado tão sozinho ultimamente
Que nem vejo em minha frente
Nada que me dê prazer
E vejo cada vez mais longe a felicidade
Vejo em minha mocidade
Tanto sonho se perder

Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Só pra ver o sol nascer

Às vezes saio a caminhar pela cidade
À procura de amizades
Eu vou seguindo a multidão
Mas eu me retraio olhando em cada rosto
Cada um tem seu mistério
Seu sofrer, sua ilusão

Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Só pra ver o sol nascer

Só pra variar II...

5h35...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Arrumando as malas parte II

Cabo Frio... foi perfeito...

O Show... Sem palavras...
O resto.... depois comento...


Re-arrumando as malas...


Desta vez...


quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Arrumando as malas parte I

Cabo Frio...



indo para lá...



adivinha para quê???

ainda



5h35

e eu ainda por aqui...
sono??? isso é pra comer ou pra usar???
(lá vou eu...)

5 minutos


Hoje é noite de céu iluminado....

Não sabia disso aqui de onde eu estava. Cheguei lá fora, com algum pretexto que já não me lembro, e foi aí que eu vi, a noite com as estrelas mais bonitas, mais brilhantes que eu já pude ter. Talvez seja só a mesma noite de outro dia, mas tanta beleza ainda tem o poder de me surpreender como se fosse a primeira vez.


Já está quase amanhecendo, mas ainda assim resolvi ficar 5 minutos fazendo o que mais gosto de fazer em minha casa. Apagar todas as luzes e olhar pro céu em noite assim, perfeita. Silêncio e céu estrelado. Fiquei de pé mesmo, porque se fizesse como de costume, deitar na rede ou na espreguiçadeira, corria o risco de não querer sair até que a manhã viesse me expulsar.

Os cães deitaram-se aos meus pés e me olhavam como se não entendessem o que estaria eu fazendo ali fora, na madrugada fria e silenciosa, olhando pro alto...
5 minutos foram suficientes para recolher mais momentos preciosos. Mais uma estrela cadente e um profundo supiro de agradecimento por estar olhando pro lugar certo na hora certa. Quando achei que já tinha recebido meu pequeno milagre, ainda veio passear no meu céu um dentre tantos lixos espaciais que orbitam a terra. Cruzou o céu até sumir perto das "Três Marias".
Engraçado lembrar da primeira vez que vi a "estrela" que se movia. O susto, pavor, fiquei estática por um tempo incalculável, talvez 1 minuto, ainda assim incalculável. Estranho mesmo pensar estar diante de algo totalmente desconhecido à parca sabedoria humana. Fez-me sentir um nada no universo, menos do que uma gota no oceano. As pessoas com quem comentei, me olhavam com um quê de pena e riso, quase dizendo: "Deus! Ela tá ficando maluca!". Mas o Google me resolveu este impasse de ignorância, e agora não me assusto mais, apenas tenho pensamentos não muito amistosos para com os EUA, os maiores provedores de lixo espacial do nosso planeta.
Pode ser lixo, pode ser errado, mas é lindo! Acho lindo, não tem como não achar.

Foram 5 minutos, pra se entender uma vida toda.
Agradeci a Deus uma vez mais pelo olhar certo na hora certa, e me convenci: a gente reclama tanto, de tudo e de todos, do que se tem e do que não se tem, que não nos permitimos olhar na direção certa na hora certa. E assim, deixamos passar tudo o que deveríamos ver, sem nos darmos conta disso. Deixamos, até, uma vida inteira passar por nós mesmos, sem nos darmos conta de vivê-la.
Não temos o hábito de olhar para o céu e passamos a achar que estrelas cadentes são coisas raras, difíceis de se encontrar. O problema está justamente aí: assim como Deus, as estrelas cadentes estão sempre por aí, todas as noites, em todos os lugares, a gente é que fica olhando pro lugar errado.


"Quem quiser ver estrelas cadentes,

que olhe para o céu, que é o seu lugar"

madrugada


4h16
de novo....


será que poetas dormem pouco?
ou só os loucos?

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Amor de amar

Conhecer-te, é amar-te
Não conhecer-te, é amar-te mais
compreender essa contradição que me toma
É coisa da qual não me ocupo

Deixo meu coração bater a batida que sabe
não quero fórmulas prontas, medidas e calculadas
tampouco perfeitas harmonias
que duram a eternidade de uma semifusa

Não quero as prisões que enlaçam a pretexto de unir
que separam por assim ser, de tão perto que serão

Deixo pra outros o ardor das paixões que chegam
Quero a certeza de que levo-te aqui dentro
e que, de vez em quando, eu possa te sorrir
mesmo que nunca sejamos, em comum,
um alguém por quem viver

Deixo a chama tênue do meu querer bem
que aquece e ilumina meu coração em desatino
abrandar a saudade que sinto do que nunca terei,
e calar a dor de amor que me ronda
à procura de fazer do meu lugar a sua morada.

Amar assim,
é viver a loucura de uma vida inteira
mas é o que me faz seguir por esses destinos
de incertezas e solidão velada

o inesperado do amor que me acolhe, acata, que me eleva
essa certeza de saber o bem do amor que amo
me faz querer ser pessoa por inteiro
me faz querer por inteiro
me faz por inteiro

À minha medida, é esse meu amor
amor que nunca terá sua hora de chegar
e ainda assim, é tudo o que me basta
com seu segredo de guardar o que poderia ser
e ainda assim, não ser

é por isso que amo, do jeito que amo:
não pelo que nunca será em nós
mas pelo que já é em mim

é por isso que amo,
só por ser assim...
eterno...
eternamente só em mim.


(Carla Balthazar)

Erva daninha


O tempo passou de novo e eu... nada de aparecer por aqui. Tenho tentado... verdade. Mas falta coisa q escrever... não os assuntos... faltam as palavras. Tem horas que a gente pensa não saber sequer falar, quanto mais colocar em palavras, prosas e versos, o que vai aqui por dentro. Esses dias tem sido assim.
Tenho pensado muito, mais do que o normal (que já é muita coisa!). Sobre todos os assuntos, pessoas, acontecimentos.
A realização do sonho de ter um carro um pouco melhor esbarrou numa certa incapaciade de lidar com o meu melhorar, progredir. Tive que reconhecer que já muita coisa passou, mas ainda há o que se arrancar, como ervas daninhas que vão se instalando e a gente só se dá conta quando já estão em todo o jardim.
Tenho medo, e sou sincera aqui. Não devia, mas tenho. Ter, conseguir ou fazer algo um pouco melhor do que existe agora, não é coisa com a qual eu tenha me acostumado. Arrisco até a dizer que são coisas que proibí em minha vida. Viraram um grande tabu. Me acostumei ao "mais-ou-menos", à comodidade de não lutar por meu algo a mais.
Não culpo ninguém. Hoje, mais que nunca, sei que, em nossa vida, só podem ir até onde nós permitimos. E se em algum momento, eu deixei que me fizessem acreditar que a derrota e paralisia são coisas contra as quais não tenho como lutar, a culpa é minha.
Mas não vou ficar sofrendo por esta culpa ou continuar me culpando pelo que eu permiti em mim. Isso não.
Reconhecer meus limites já é um começo... um bom começo.
Finalmente amanhã vou pegar o carro... e ele é lindo!!!

Obrigada, sempre, meu Senhor e meu Deus...

PAZ E BEM!!!

(saudade já da melissinha...)

quarta-feira, 11 de junho de 2008

O tempo não pára...


Mais de um mês já se passou desde que criei este blog
e nada de novas postagens...
Esse tempo que não pára de correr.
Sim, porque ele corre, desabalado, vai bem lá na frente
e a gente fica atrás, se atrapalhando pra tentar alcançá-lo.
Mas tudo bem, já me convenci que vida de universitário é assim mesmo... correndo pra tentar cumprir todos os prazos... ler todos os textos...
fazer todos os trabalhos... tentar decorar os integrantes
dos diferentes grupos das diferentes disciplinas...
Estamos quase terminando o trabalho de campo de antropologia.
Confesso que vou sentir falta. Não exatamente do tema,
que pode até parecer um pouco mórbido,
mas sim de tudo o que veio com ele, todas as experiências,
todas as descobertas, a união do meu grupo...
mas, principalmente, vou sentir falta de como EU me senti...
Se uma vida inteira de trabalho com a morte
mudou a vida desse povo todo com que tivemos contato,
posso afirmar que essas poucas semanas foram capazes
de mudar também a minha vida... e a do grupo todo, tenho certeza...
Nossa primeira grande experiência acadêmica... e talvez...
a mais importante de todas...
(Falta de tempo master... mas eu volto!!!)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Hoje sou só eu...

Hoje eu resolvi finalmente dar início ao meu blog. Vontade adiada por tantas vezes que perdi a conta. Falta de tempo, falta de coragem, falta de empenho, desculpas à parte, finalmente, chegou o dia.
Que este seja um espaço onde eu possa expressar o burburinho de idéias que volta e meia se acotovelam dentro da minha cabeça. Onde meus sentimentos, aqueles que puderem, venham exibir-se e tentar se fazer entender.
No complicado processo de viver, crescer, descobrir-se indivíduo e plural ao mesmo tempo, somos arrastados constantemente por ondas avassaladoras, que ora nos redimem, ora nos sufocam, ora nos fazem transgressores, ora libertadores, ora fazemos de tudo pra sumir no mar de gente, ora queremos ser reconhecidos na multidão.
Então, de repente, nos vemos diante do dilema de sermos um dentro de nós, e outro do lado de fora. E sendo dois, somos avessos, esquerdos e direitos, somos muitos, e entre outros tantos muitos, somos, na maioria das vezes, sós. Porque na multiplicidade de sentidos que damos a nós mesmos, acabamos por nos afastar do que é essencial ao nosso coração.
Que eu possa fazer de minhas subjetividades, não motivo de afastamento de outros corações, mas um motivo agregador, enriquecedor, e, perdoe a pretensão, fazer que, de alguma forma, minhas viagens a mim mesma possam ser fonte de entendimento pra outros tantos que, assim como eu tempos atrás, em algum momento precisam de um conselho, uma direção, e não tem a quem pedir, e talvez não saibam nem pedir.
Escrever é uma paixão escondida por pensar que não sou capaz, por não acreditar em mim mesma, talvez até por acreditar inconscientemente no que outros tantos olhares tem falado de mim ao longo dos meus dias. Isso é uma barreira que há muito tempo percebia intransponível, mas que hoje, sei que posso tentar superar. Posso e vou. Hoje sei que sou muito mais do que vêem de mim. Sou muito mais pra mim, sou muito mais pra Jesus.
Falar das coisas de Deus é coisa certa. Hoje em dia, e não há muito tempo, Ele é a diretriz de todos os meus passos, motivo de todos os motivos, nome sobre todos os nomes. O amor de Jesus por mim é uma experiência de vida que também quero compartilhar com aqueles que possam, inadvertidamente, vir parar aqui nestas passagens, e quem sabe, percam um pouco de tempo para ler tudo isso que irei amontoando aqui e acolá.
Sejam acolhidos e acolham-me também... como amiga e irmã em Cristo!!!
Fiquem à vontade...Sejam bem-vindos ao meu pequeno espaço!!!